Governo lança programa de bolsas no exterior

BRASÍLIA – O governo lançou nesta terça-feira o programa Ciência sem Fronteira, que pretende garantir bolsa de estudo no exterior para 75 mil estudantes. Além disso, a presidente Dilma Rousseff espera que a iniciativa privada se engaje na iniciativa e forneça mais 25 mil. No total, o governo planeja investir R$ 3,1 bilhões.
A apresentação do projeto ocorreu durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), no Palácio do Planalto, mas não teve caráter inovador porque a própria Dilma, há dois meses, já havia anunciado sua intenção. Apesar da aparência de grandiosidade, o programa foi contestado por alguns conselheiros do CDES, que temem um caráter elitista da proposta, com privilégios para quem, na prática, cursa as melhores universidades federais e estudou nas melhores escolas no ensino médio.
O ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, que se derreteu em mesuras a Dilma ao dizer que a autoria intelectual do programa foi dela, mostrou que,atualmente, o Brasil ocupa a 13ª posição entre os países com maior produção científica, atrás, inclusive, da Índia e da Coreia do Sul. No quesito inovação, o país está em 47º lugar.
– As empresas investem muito pouco em pesquisa no Brasil. Se não revertermos essa situação, o governo não conseguirá dar conta – disse Mercadante.
De acordo com o ministro, o objetivo do programa será investir em profissionais da área de exatas, sobretudo em engenheiros. Ele declarou que, no Brasil, de cada 50 formandos, apenas um é engenheiro. Na Coreia do Sul, essa relação é de quatro para um.
A intenção do governo, com o Ciência sem Fronteira, é enviar estudantes para as 50 melhores universidades do mundo no exterior e também atrair talentos para trabalhar aqui. Terão prioridade, por exemplo, estudantes e pesquisadores nas áreas de computação e tecnologia da informação, fármacos, petróleo, gás, tecnologia nuclear, biotecnologia, tecnologia aeroespacial entre outras. Das 75 mil bolsas, 27.100 serão destinadas nos próximos três anos a alunos em graduação; 24.600 a doutorado de um ano; 9.790 para doutorado de quatro anos; 8.900 para pós doutorado e ai por diante. O Brasil também quer atrair 390 pesquisadores visitantes.
A seleção se dará por mérito. E é ai que alguns conselheiros criticaram a proposta. O ex-reitor da Universidade da Bahia, Leomar Nogueira, disse que, do jeito que o projeto foi concebido, afastará os alunos mais pobres porque eles não têm acesso a escolas de idiomas e, só por isso, já estariam fora do benefício. Além disso, segundo Nogueira, os alunos que concorrerão às bolsas são oriundos de ensino médio de qualidade – e pago – e, consequentemente, obtiveram as melhores vagas nas melhores universidades brasileiras.
– Esse programa, se não for feita alteração, vai beneficiar a minoria que já tem como chegar a essas bolsas porque já falam idiomas e estudaram nas melhores universidades – disse ele.
A presidente Dilma Rousseff, no entanto, disse que o projeto quer atender alunos e pesquisadores de todas as regiões do país e, ao contrário do temor de alguns, não irá beneficiar somente alunos ricos. Para ela, o Enem, que será utilizado como nota de corte, mostrou que alunos pobres também conseguem obter boas notas.
– No Enem há prova concreta que as pessoas mais pobres podem ter acesso – disse.
– Não há demérito em ter uma política de mérito no Brasil – acrescentou.
Link: http://oglobo.globo.com/educacao/mat/2011/07/26/governo-lanca-programa-de-bolsas-no-exterior-924975393.asp